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Curso de Iniciação ao Vinho - Viticultura
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    Curso de Iniciação ao Vinho - Viticultura

  • Curso de Iniciação ao Vinho

    Cultura & Degustação

    Viticultura e os varietais

    A história nos diz que o plantio das videiras e a consequente produção do vinho remontam ao período Neolítico, algo entre 5.000 e 8.000 anos antes de Cristo.

    Nesse período, que a Gênese pode fazer coincidir com o fim do diluvio e o sucessivo retorno à terra de Noé, o homem parou de perseguir animais para se alimentar e começou a plantar vegetais, se estabeleceu em vales férteis e começou de verdade a criar as bases da civilização.

    É claro que nessa época tudo o que dizia respeito a vitivinicultura era extremamente arcaico e casual, o que acontecia poda muito bem ser considerado como um milagre da divindade, ou da natureza, já que o conhecimento humano era muito limitado.

    Porem uma coisa nós sabemos, que aquelas primeiras videiras talvez tivessem sido plantada por meio de sementes, mas que, já faz muito tempo, a videira se reproduz por via vegetativa, por meio das mudas, não das sementes.

    Se a videira fosse contar com a polinização, hoje não existiria o conceito de varietal e o vinho seria realmente fruto do acaso, ou do capricho divino, como se queira.

    Acontece que o próprio sentido do varietal é ligado a forma de plantio da videira, sabemos que a polinização entre uma planta macho e uma fêmea, por meio do pólen trazido pelas abelhas, por exemplo, daria origem a “filhos” que trariam material genético dos pais, dos avós, misturados de uma forma empírica, da mesma maneira que  nós humanos, quando temos filhos, não temos nenhum controle quanto à aparência deles, podendo se parecer com a mãe, com o pai, com os avós, com todos eles, aleatoriamente.

    Por meio dessa analogia fica claro que a videira filha dessa união não traria em si as características de nenhum dos genitores, assim em pouco tempo as características de um varietal seriam diluídas pela miscigenação das raças de forma a se perderem todas as características.

    Já pensou?

    Onde ficaria assim o sentido de Cru? O orgulho dos grandes de Bordeaux? Se a cada geração de videiras toda a herança genética dos Cabernet Sauvignon e Merlot se misturasse com sabe-se lá que outros genes trazidos pelo vento?

    E na Borgonha? Quanto valeria uma garrafa de Romanée Conti, se suas videiras excepcionais de Pinot Noir fossem poluídas com traços genéticos da famigerada Gamay, ali do lado?

    Casos parecidos na natureza se conhecem, a própria Cabernet Sauvignon é “filha” de um acidente genético, não provocado pelo homem, entre a velha Cabernet Franc e a também velha Sauvignon Blanc, ambas castas pertencentes a nobre linhagem bordalesa.

    Outros casos foram provocados pelos homens, vejam a Pinotage da África do Sul, cruzamento obtido em 1925 entre a Pinot Noir e a Cinsault, então chamada de Hermitage, daí o nome composto Pinot(noir) – (Hermi)tage.

    Outro exemplo, a mais antiga Muller – Thurgau, de um nada modesto cidadão suíço, o Sr. Herman Muller que, na cidade de Thurgau, por volta de 1880, resolveu cruzar as castas Riesling e a Chasselas (uns dizem que foi a Madeleine Royale), e criou este novo varietal, o batizou com o nome dele e de sua cidade.

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    Esta uva dá origem a muitos vinhos alemães, entre eles o Liebfraumilch, outrora famoso aqui no Brasil, e a espumantes aromáticos parecidos com o estilo Prosecco celebrados e famosos na Itália do Norte, onde o Muller-Thurgau é consumido em versão frisante ou espumante aromático para abrir o apetite antes do almoço.

    Hoje, com o estudo do DNA e do genoma das plantas a criação de varietais distintos virou um exercício mais fácil e menos demorado, mas naqueles tempos era um trabalho que demandava paciência, por meio de erros e acertos até encontrar o ponto definitivo de um novo varietal que reunisse as qualidades essenciais desejadas; a partir da descoberta a reprodução da nova casta só ocorreria por via vegetativa, através da muda.

    Hoje se tenta fazer algo para encontrar novos varietais mais resistentes às pragas que não demandem tanto o uso de química de síntese e inseticidas/pesticidas.

    Como o exercício da viticultura orgânica e biodinâmica ainda é luxo para poucos, haja vista o alto custo operacional, se busca produzir vinho baratos utilizando castas que, desenvolvidas com cruzamentos entre determinadas variedades viníferas e outras eventualmente resistentes por natureza as pragas, permitam a produção de vinho de qualidade aceitável sem precisar de excessivos envenenamentos de terras e de gentes, é um trabalho importante a ser seguido, varias universidades europeias estão nessa pesquisa que visa o desenvolvimento com mais sustentabilidade.

    A Universidade de Udine, no Friuli, é uma das mais adiantadas nas pesquisas desses varietais e já selecionou alguns novos tipos que possuem material genético prevalentemente de vinífera, Sauvignon Blanc em muitos casos, com 5 a 10% de outras uvas não vinífera.

    Do ponto de vista organoléptico a casta assim obtida é muito próxima da vinífera original, porém permite diminuir pela metade os tratamentos no vinhedo para o combate as doenças como peronospora e oídio.

    O desenvolvimento dessas castas é muito caro à União Europeia que busca reduzir os tratamentos com pesticidas nos vinhedos em pelo menos 50%, até 2025.

    Assim para os aficionados dos grandes vinhos a busca pelo orgânico e biodinâmico será uma escolha importante, já fator determinante para muitos consumidores e tendência em países desenvolvidos tenho esperança que os enófilos brasileiros também possam seguir esse caminho, para o consumo de vinhos comerciais a tendência apontada pelos novos varietais levará a uma nova forma de entender a viticultura e talvez consolidar a sustentabilidade nos vinhedos.

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