• Marco Ferrari Sommelier
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Rolha ou Screw Cap? Qual das duas seu Vinho prefere?
  • Rolha ou Screw Cap?  Qual das duas seu Vinho prefere?
    Rolha ou Screw Cap? Qual das duas seu Vinho prefere?

  • Rolha de Cortiça ou Tampa de Rosca

    Essa é uma pergunta frequente e que para muito apreciadores de vinho é de crucial importância.

    No vídeo procuro explicar melhor os critérios que podem ser levados em consideração na hora da escolha e, sobretudo, procuro desvendar um mito e acabar com um preconceito sem fundamento.

    Mantendo sempre em mente que no mundo do vinho, mas nos outros mundos também, o gosto individual é soberano e inquestionável e devemos nos acostumar a respeitá-lo.

    Aqui no blog vou me aprofundar um pouco mais sobre como surgiu a Screw Cap, quais são suas vantagens, desvantagens e sua adoção pelo mundo afora.

    Origem da Screw Cap

    No fim da década de 1960 e começo dos anos ’70, o produtor australiano Peter Wall da vinícola Yalumba, contatou uma empresa francesa, sim francesa, quem diria? Para desenvolver uma maneira diferente de fechar suas garrafas de vinho.

    O motivo que o levou a isso não é de domínio público, ou pelo menos eu não consegui apurar, mas o fato é que a Le Bouchage Mecanique, esse o nome da empresa francesa desenvolvedora, no final dos anos ’60 estava entregando um primeiro exemplar de screw cap.

    O teste – drive foi com o vinho suíço Chasselas, que tinha amargado consistentes perdas com o mal cheiro que as rolhas defeituosas passavam ao vinho, o malfadado TCA, Tricloroanisol, do qual falaremos mais adiante.

    Em 1972 aparecem as primeiras garrafas de vinho suíço usando a novidade e, a partir de 1976, um grupo de produtores australianos, entre os quais Penfolds e Hardys, além da Yalumba, adotam a Screw Cap em seus vinhos.

    No começo o público acolheu meio que desconfiado a tal novidade, afinal tratava-se de uma solução revolucionária que mudava radicalmente não somente a forma, mas o conceito do vinho.

    A abertura da garrafa se tornava uma operação rotineira e vulgar, que nem desaparafusar um pet de água mineral por exemplo, com grande horror dos sommeliers da época, a própria garrafa perdia pontos em glamour e fazia torcer o nariz daqueles que pensavam em vinho para dar de presente.  

    Por esses motivos a Screw Cap se viu abandonada e posta de lado por algum tempo, na década de 80 se viam poucas garrafas no mercado mas, a partir dos anos 90, volta de vez, recomeça pelo emergente mercado chinês, volta para Austrália e, gradualmente, toma conta da Nova Zelândia.

    Hoje temos um crescimento exponencial da adoção da screw cap mundo afora, não somente no Novo Mundo aonde de fato surgiu, mas na Europa também existem produtores de vinho consagrados que já não se envergonham em utilizar a tampa de rosca, a exemplo do produtor de Chablis Domaine Laroche que a usa em seus Chablis  1er Cru e Chablis Grand Cru.

    Tudo bem, mas por que surgiu?

    A rolha de cortiça é retirada da casca do Sobreiro, é um organismo vivo e precisa de cuidados e tratamento, mesmo após sua extração.

    Se a qualidade da cortiça não for muito boa, ou se houver negligência quanto ao tratamento, pode desenvolver o chamado Tricloroanisol, TCA, que tem sua origem num fenol originário dos bosques, tem se observado, inclusive, que dito fenol é uma das reações aos aditivos químicos de síntese que antigamente eram utilizados em larga escala no tratamento dos sobreiros, representando um dos efeitos colaterais à gestão das pragas.

    O correto manejo dos sobreiros e a atenção pós colheita diminuíram muito o risco de contaminações tanto que, atualmente a incidência de TCA nas rolhas é muito baixa, já não era assim na década de 60, época de ouro de pesticidas e venenos na agricultura mundial.

    Esse, sem dúvida, foi o principal motivo que estimulou a busca por alternativas à rolha de cortiça, além do fato que, se para Portugal a cortiça representa um patrimônio do agronegócio, para os demais países significava dependência da importação de insumos destinados à própria indústria.

    Com a adoção de screw cap inexiste o problema do TCA, perdemos em classe, mas ganhamos em eficiência.

    Para Concluir...

    ...Podemos salientar que nas últimas décadas mudou o perfil do consumidor de vinho e junto mudou, ou melhor, evoluiu o mercado do vinho, passamos do consumo a granel diário da família para uma diminuição mundial da litragem e uma migração para da garrafa de vinho de 750 ml.

    Assim, se todas as garrafas de vinho vendidas no mundo, fossem fechadas com uma rolha de cortiça, por simples e barata que fosse, acabaria com a produção de Portugal e dos demais países fornecedores. A Screw Cap hoje é uma necessidade.

    O debate, extenso ainda hoje, conta com diversos aficionados dos dois lados, a única coisa que ainda não dá para ser comprovada é a eficácia da Screw Cap nos vinhos de guarda, ou por recusa em mexer nos ícones do mundo enológico, ou porque, de fato, ainda não temos histórico de nenhuma garrafa de vinho guardada há tempo suficiente para testemunhar a eficácia da tampa de rosca.